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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A mente do poeta


dema


Não é um disse-me-disse
que todo poeta mente,
sim, foi Pessoa quem disse,
não assim exatamente
nem que a tanto se restringe,
mas se falou que ele finge,
mentir faz-se equivalente.

De questionar-se, porém,
se lhe macula a  honradez
a simples busca do bem
com a expressão sem nudez.

Quem sabe o falso na mente
se ampare no coração
na busca do amor latente
pra cura da solidão
e o que assim parece mau
pelo seu fim se transmuda
numa demão natural
perante um “deus nos acuda”.

A que lhe serve a verdade
quando a trata diferente,
moldando-a à realidade,
longe da que traz na mente?

Não é um disse-me-disse
que todo poeta mente,
sim, foi Pessoa quem disse,
não assim exatamente
nem que a tanto se restringe,
mas se falou que ele finge,
mentir faz-se equivalente.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Luzes opacas


dema


Luzes urbanas contristam o luar,
pranteia com ele o fulgor das estrelas;
saudosos do embalo nas ondas do mar,
pedem à procela pra não escondê-los.

Ansiosos, aguardam o giro terrestre,
pra longe das urbes, reinando de novo,
expandir ao largo seu poder celeste
e ativar o estro dos vates do povo.

Recostada à janela do apartamento,
queixosa donzela embaralha as madeixas;
lágrimas, mágoas, enfadonho lamento,
nunca fora amada senão como gueixa.

Mesmo seus sonhos parecem ofuscados
tais quais a lua e as estrelas no céu,
quem sabe amanhã, depois de renovados,
permutem o amargo por sabor de mel;

nas voltas da terra e na roda da vida,
em plagas longínquas com lustre estelar,
na luta, jamais se dando por vencida,
o brilho do amor ela possa encontrar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Quem é ele?


dema


Com que haverá de se preencher
o imensurável vazio humano,
tamanha ausência de perspectiva
da razão cada vez mais insana(?)
Busca exaustiva e cotidiana,
ausente em mente o que se procura.
Maior o tentame, mais obscura
a esperança de achado instantâneo.

Mas, afinal, que papel lhe cabe
neste universo em devir-mistério,
co’eterna força pra dilatar-se
em novas eras, novas esferas(?)
Pensando raso, nada descobre
e, se profundo, então se confunde.

Onde a noção da própria existência,
o móbil do vivo a se suster,
porquê dos credos, leis e não-leis,
da crença fútil na eternidade;
por almas nobres e generosas;
quem esse ser que se auto devora
e,  ante o incógnito, se apavora,
posto outrossim crie o virtual,
aspire ao belo e o reverencie;
quem esse ser assim tão sedento
de deuses, mitos e rituais;
um mendigo mini, um mini rei,
tão demônio quanto semideus?

Súbito, desce o facho de luz,
fá-lo entender-se na claridade:
não figurar mais que ser-procura
no querer pra si felicidade;
único elã da humana ventura,
há de ser ela quem o seduz.



Ponto final


dema


Não raro me pergunto:
se a vida não tem volta,
para que foi feito o mundo?
(Calo-me sem resposta,
sem direito de revolta.)
Um dia pra nascer,
um dia pra morrer.
No interregno, a dádiva
de incontáveis universos.
Parte deles de alegria,
entusiasmo, energia;
parte outra, só do inverso.
Ô Kyrios! Murcho, o amor,
vivo, o fracasso.
Sem mais razão,
tece, a solidão,
a corda da forca;
a languidez arma o laço.
Acontece.
Quando do amor não brota mais vida,
existir faz-se menor que morrer.
Eis o ponto final.

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