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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Democracia

“O pressuposto básico para o nascimento e a consolidação de uma democracia é a outorga de poder, pelos cidadãos, a quem, em nome destes, o venha a deter, devidamente insculpido na lei maior da nação.
Eis o poder de império a ser exercido em plenitude e, tão só, nos exatos limites em que outorgado, sem excessos e sem dele se declinar, ainda que parcialmente.
Onde se verificam abusos ou vazios de poder, implanta-se o caos. As populações se rebelam e passam a agir como hordas. O que ocorre, hoje, em várias partes do mundo, comprova o que aqui se afirma.
A justa medida há que ser permanentemente fiscalizada, em virtude de direito e obrigação, por todo e qualquer cidadão outorgante.
O governo, contudo, não adquire a propriedade vitalícia nem hereditária, desse poder. Para que se evite o desmando, impõe-se sua alternância, pois se sabe que quanto mais um governo dura, maior é a ditadura.” (dema)

sábado, 23 de agosto de 2014

Livro incompleto

dema


Pesa-me ao dorso um dilema,
falta-me mais um poema
pra fechar de vez o quadro
dos que hão de ser publicados.

Na verdade existem outros,
porém, não me fazem gosto,
mesmo a editora os rejeita,
só serve coisa perfeita.

Entretanto o tempo urge
e meu pensamento ruge,
mas as ideias, covardes,
fogem pra outras paragens.

Ai, seu dilema, o que faço?
Não sei pegar boi a laço,
inda que não por preguiça,
só me resta encher linguiça.

Penso ser mui desrespeito
com quem o aguarda pra abraço
receber livro mal feito,
se privado de um pedaço.

Meu Deus, tamanho o fiasco,
fadada a obra ao fracasso.
Sirva esse fecho esquisito
pro tomo nascer bonito!

demaisilva

INDA VEJO

dema

Inda vejo,
no milênio terceiro,
pertinho do terreiro
onde desceu Gabriel,
a barbárie brotando da terra,
caindo também do céu,
a estilhaçar as crianças,
cortar inocentes cabeças,
como milhões de esperanças.
Tudo em nome de raça,
de um povo, de um deus.
— Que desgraça!
Mas quem é esse deus
que presta somente aos seus?

Mísseis, na Ucrânia, derrubam
os pássaros que por ali voam,
e almas no espaço revoam,
perdidos seus corpos sem grita.
— Ô morte esquisita!
Já russa se fez a Crimeia;
abaixo, cinza, Israel,
Gaza, não é de ninguém;
Telavive, Jerusalém...

Nas áreas do rico óleo negro,
não distante do ébano mar,
a notícia se cala
à degola de alarde
com adaga empunhada por rosto cobarde,
a mostrar tão somente o ódio no olhar,
na espera de alçar, por prêmio, o paraíso
(— ledo enganoso juízo.)
Sorrindo o espreita o chifrudo diabo,
tridente em riste pra assá-lo na brasa
do inferno que, agora, sei, muito mais arde,
sem pressa nenhuma, que seja outra tarde.
— Poltrão! Animal! Covarde!
Teu ato denigre até a natureza,
incrementa apenas o ódio cruel,
borbulhas de sangue nessa areia quente,
do nascer dos astros ao seu poente.
Desmereces o trato de humano;
teu pecado, maior que o de Adão.
Nenhum deus te terá piedade,
teu destino é a condenação.

— Que mundo besta, Senhor!
Pra onde fugira o amor?


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Silêncio noturno

dema


Chiado em surdina, permanente e sibilante, faz eco ao profundo silêncio que me fere.
Percebo o sussurro do ar que entra e sai por minhas narinas.
Pano de fundo, melancólico pedido de misericórdia. Vai a Deus, de alguém que há muito partira.
Ausculto o mistério da senhora em seu quase um século. Ninguém a atende.
Um farfalhar de alma yazidi, vazada de um corpo com cabeça decepada à cimitarra, perpassa a negritude do momento, a espargir, daquela, os últimos gemidos.
Anjos passeiam na escuridão e de mim se aproximam sem barulho.
Com olhares luzidios e penetrantes, inquirem-me por que me calo ante a injustiça dos homens. Buscam saber se fora em vão a morte de cruz.
Depois, partem batendo asas em inaudível movimento.
O sombrio encobre a visão terrena da vida e de um deus.
Impera a ambição antropofágica dos semelhantes na luta pelo poder.
O grito dos oprimidos não se ouve nessa ensurdecedora letargia, só o marasmo de uma podre existência à espreita do divino. De fato, a humana desistência.
Vasculho, por dentro, as paredes da psique à procura de fresta por onde fugir da mesmice. Ao meu lado, angelical, ressona minha amada.
Tão perto, nem de longe sonha por onde viaja meu pensamento ou quão intensas as agruras que sofro na calada noturna.
DEMAISILVA

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Sem saber

dema

De repente a vida
parou na avenida ...
(do eterno?)
Por ou não merecer,
fiquei sem saber
se há sobrevida ao mortal...
se céu, se inferno;
e se, havendo, em qual portal
ou se stop total.
Difícil nascer e não ter fim.
Mas como assim?
Pior, não nascido existir.
(Só a Deus bendita sorte.)
Não contradiz, a meu sentir,
que também não tenha morte.
E quem, cuja vida parou,
voltou pra me dizer se há
algo mais do lado de lá,
lá, pra onde também vou
ou continua a caminhar?
Por ou não merecer,
eu, mortal,
fiquei sem saber
de algo tão natural.

DEMAISILVA

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Brincando de “dum-dum”


dema
(Às crianças-estilhaços que se tornaram anjos na terra de leite e mel.)

Brincando de “dum-dum” eu morri,
não atirei em ninguém,
outros morreram também.
Ah, sim, eu era palestino,
como tantos outros meninos
que partiram como parti.

Abdallāh, Abdallāh!
Onde Meca estará?
Encostado a nós,
nascera o filho de Jeová.
Cadê a justiça de Amós?
( _ Olha por nós!)

Só areia sangrenta,
nada de montanhas azuis,
nossas casas ruídas, Jesus,
morte sem graça, nojenta,
tal como a  sua na cruz.
Por que, por que, por quê?
Que fizemos para a merecer?
Tu te foste pendurado,
nós outros, soterrados.

Da terra de leite e mel,
por certo, nosso maná
foram as bombas de Israel.
Hamas, Hamas, Hamas,
por que ódio tão cruel?
Assim, a quem salvarás?

Eli, Eli, Eli,
Lamá Sabactâni!

Sou anjo nascido de chacina,
estilhaço de bombas assassinas,
que se achando distante da Kaaba,
ora espia essas almas diabas
expulsando mais almas meninas.