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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CULPA DA NOITE

 
dema
 
Sim, a noite abusa de minha inocência,
deturpa meus sonhos e meus pensamentos;
desnuda a morena sem dó nem decência,
fazendo-me amá-la com mil juramentos.
 
Ah, noite vadia,
que vadio faz o meu velho bom senso,
pois mal nasce o dia, com a alma vazia,
me torno hipertenso.
 
Adicto da noite, me vou novamente
buscar alimento pra minha fraqueza.
Violento a malícia pra amar com pureza
aquela que amei depravadamente.
 
Oh, vã tentativa
de delicadeza ante deslumbramento
que a musa me causa e me tira a nobreza
naquele momento.
 
A culpa é da noite, se nem vespertina,
já vem em surdina, quer me atormentar,
em meu desassossego, mostra-me a sina
de amar a morena, mas com abastardar.
 
Quero à luz do dia,
ser meu próprio dono, se bem me abandone
à aflição d’esperar que a noite me a traga
pra outro pecar.
 
Que sorte esta minha, fugir eu nem posso,
que impressão retrato pra quem me estima,
que vida sofrida este meu “padre-nosso”,
como fel e mel ao meu ser se destina.
 
Haverá perdão
se assim se viver, só gozar e sofrer
(o demônio noite não há de merecer):
Morena-paixão?

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