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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A arte me fascina

dema

Não me importaria viver vida chata
se eu fizesse arte quando ao escrever;
na certa, jamais ela seria ingrata
ao vibrar d’alma de quem a fosse ler.

O que vive só já tem sua companhia,
com quem interage em languidez noturna.
Juntos, longe o sono, produzem poesia,
vez a solidão ser nada taciturna.

Criam seus castelos de tempos passados,
habitados por sonhos, por fantasia,
com fossas profundas por todos os lados
de dormentes águas e olor maresia.

Relatam amores, paixões, despedidas
ou tertúlias, saraus, jantares e festas;
cochicham tramoias, traições fratricidas
durante cochilo nas horas de sesta.

Cometem pecados ao som de serestas
cantadas à mente tão só virtuais;
depois o confiteor ao deus que lhes resta
mais a penitência pelos capitais.

Remetem-se pra Marte, Saturno e Júpiter,
em outras galáxias longínquas se internam.
Nas naves fantasmas, com Deus ou com Lúcifer,
vagam pelo universo ou nelas se hibernam.

Nem mesmo se lembram da vida em rotina
pois se levantam ou se deitam co’a sorte,
mas eu, por enquanto, encarado da morte,
queria na arte encontrar minha sina.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

O tamanho do meu universo


dema

Qual o tamanho do meu universo
que canto em prosa e mais vezes em verso?
É do tamanho do meu pensamento,
quando encarnando todo o sentimento.

Será do tamanho da dor que sente
qualquer mãe que perde o filho pra droga,
da insensatez do juiz inclemente
que, pra decidir, vende a própria toga.

Mede a injustiça que a Justiça faz
sem a venda nos olhos pra julgar;
ao invés de a Deus, serve a Satanás,
mas no meu mundo não tem seu lugar.

É tal o nojo que enjoa a criança
quando forçada para o coito adulto
pelo canalha a merecer vingança
dos meliantes que lhe negam indulto.

É do tamanho das guerrilhas bestas
que ceifam vidas de pobres soldados,
que fazem órfãos bebês inda em cestas.
Que as travem, pois, os comandos malvados.

Tem o tamanho da fome etíope,
dos acres de soja e canaviais;
a dimensão desse sistema míope
priorizando só os capitais.

É mensurado por toda a incultura,
fruto da mídia ao servir o poder,
pra manuseio da massa em moldura
de garantia de ali apodrecer.

Tem o tamanho do amor egoísta
quando espezinha a fiel companheira,
que se apegada a um sentir altruísta
por filhos se humilha até a vida inteira.

Medido tal como o individualismo
que hoje permeia toda sociedade,
reclamante, mesmo com cepticismo,
de um pouco mais de solidariedade.

Mede, contudo, mais exatamente,
minha vida plena de solidão.
É da largueza do que tenho em mente
e da grandeza de meu coração.

 


 




quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Socó


dema

Enquanto o amanhã não chega,
vou vivendo o hoje,
a degustar o verde margeando
o espelho d’água prata,
que duplica a mata.
Súbito, emerge a piaba em alto salto sobre a larva e
reimerge
em eixo de círculos divergentes que se formam e se espalham
no embaralho da imagem do astro rei
e da vegetação de margem.
Mais ao longe, arranha-céus buscam o espaço
e o jato risca o céu em descompasso
às minúsculas ondas circulares da (e)imersão da piaba.
Um socó corre na areia. Para decepcionado: o peixinho à flor d’água não retorna.
Lança, então, uma semente, mas ela afunda.
Com ela submergem meus pensares.
E a vida crepita ao redor.
Estou só, no meio de tudo e do meu nada.

 

Imagina-te


dema


Imagina-te princesa
ou então minha rainha,
presente, por gentileza,
de minha fada madrinha.

Ainda que me quisesses,
feliz eu não te faria,
pois o amor me enlouquece
e ele te sufocaria.

No arroubo do desejo
eu me perco à tua imagem,
ao degustar o teu beijo,
não serei meu próprio pajem.

Desejar-te tanto assim
há matar os teus quereres;
ter-te, louco, só pra mim
sói minar os teus poderes.

Que trago eu a oferecer-te
senão amor egoísta?
Que prazer terás de haver-me,
se não ages masoquista?

És meu sonho de consumo.
Teu viço de juventude
desgoverna-me do prumo
me acentua a senectude.

Que de melhor há que a vida,
que romper os obstáculos?
Não importa se sofrida,
se ela é o próprio espetáculo.

Imagina-te princesa,
faze de ti a mulher
que fascina com a beleza
a quem bem a aprouver

Renuncio ao meu presente
em favor de tu’alforria.
Busco assim ser coerente,
inda que me contrarie.