"NUNCA É TARDE" é um blog que divulga ideias e produções que podem incrementar sua bagagem cultural. Traz textos profissionais, religiosos, literários, filosóficos, dentre outros.
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quinta-feira, 24 de maio de 2012
Mamãe iletrada
dema
Mamãe iletrada lê meu coração com fluência, vasculha minh’alma e, com opulência de calma, desembaraça aflições que me levam à demência. Se a tristeza prima, confirma-me as causas, orienta; se impera a alegria, dela compartilha e faz sua. Sem bengala se arrasta, atravessa a rua, a fazer-me visita. Pra ser honesto, às vezes, irrita. Se a ofendo, finge que não se apercebe ou insinua que a razão é a rotina, o trabalho, a fadiga. Eu que o diga! Se tem algum desejo, raramente o diz E se o diz e não faço, será quando eu puder. A ela está bem quando me aprouver. Mamãe iletrada conhece todos os banhos e chás, benfazejas ervas da horta verdinha cada dia me traz. Se delas desfaço, a ela tanto faz. Amanhã trará mais. No fundo, no fundo, ela quer é me ver. Velhinha, talvez imagine que noutra esfera não mais o fará. Ledo engano, mamãe. Se morei em seu ventre, ter-me-á para sempre e do seu coração ninguém há de tirar. Tolo que sou, não lhe dar muito amor, carregá-la no colo de volta pra casa, fazer-me as vezes de sua bengala, abrir meu coração e dizer-lhe, ao menos uma vez: que a amo trinta dias por mês. ...
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