Páginas

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O menino da casa ao lado

dema


De pouca conversa e nada engraçado,
Vem vindo o menino da casa ao lado.
Sempre triste vem, sem causa aparente;
Se enturma, porém, mui fácil com a gente.


Ainda criança, virou companheiro
De festa ou igreja, passar o dia inteiro,
De escola, de risos, de estripulias
E até de amores com as primas Marias.


Foi parceiro meu das mil pescarias,
Nos jogos de truco, bola vazia;
Quando preciso, também na desgraça,
Chorava comigo e sempre de graça.


Se no futebol a dupla vencia,
Troféus de cerveja e de boa cachaça
De um gole sorviam, e as taças vazias,
Com mútuo apoio nas próprias carcaças.


Mui cedo sentira na pele o fado,
Morrera-lhe o pai, seu irmão em seguida.
A morte o visava, fechando o quadro,
Talvez pra aumentar-lhe a bruta ferida.


Cedo casou-se, foi ser professor.
De paixões sofreu sem ter dado causa.
Se fez de cupido de um meu grande amor
Que, malfadado, hoje me dá náusea.


Quis o infortúnio arribar estandarte,
Levando avante a missão cafajeste
D’erguer-lhe uma tumba sem obra de arte:
O nefrologista não era celeste.


Durante algum tempo ombrou dura cruz.
Pra tamanho lenho era pequenino
Quando aos trinta e três, tal como Jesus,
Partiu quem nasceu pra morrer menino.


Em meu sentimento, perdi um irmão,
Bem mais que de sangue, de coração.
De pouca conversa e nada engraçado,
Foi embora o menino da casa ao lado
...

Um comentário: