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domingo, 27 de novembro de 2011

Senhora liberdade

                                dema

Eu quis fazer um poema
Pra saudar a liberdade,
Me embaracei com o tema,
Por pouca capacidade.

Liberdade, liberdade!
És nobreza do humano,
Que se gaba mui ufano
Em possuí-la de verdade.

Busquei sempre sua conquista,
Ser senhor de meu nariz,
No “front” eu fui ativista,
Trunfo para eu ser feliz.

Vislumbrava a opressão
Como algoz do meu viver
Mas sempre co’a pretensão
De a matar com meu querer.

Quão surpreso ao descobrir
Que ser livre é massacrante,
Pois a escolha vai surgir
De peleja resultante.

Liberdade é soberana,
Sobrepõe-se ao misto ser
Puro afeto e razão sana,
Que, submisso, há de sofrer.

Liberdade é exigente,
Quer se obrigue pelo ato.
Doma o instinto, se presente,
E abomina o imediato.

Me interrogo de repente:
Liberdade vale a pena?
Inda que menos decente,
Talvez... trilha mais serena!

Ser escravo da opressão
Ou servo da liberdade:
Quem me diz qual opção
Trará a felicidade?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O menino da casa ao lado

dema


De pouca conversa e nada engraçado,
Vem vindo o menino da casa ao lado.
Sempre triste vem, sem causa aparente;
Se enturma, porém, mui fácil com a gente.


Ainda criança, virou companheiro
De festa ou igreja, passar o dia inteiro,
De escola, de risos, de estripulias
E até de amores com as primas Marias.


Foi parceiro meu das mil pescarias,
Nos jogos de truco, bola vazia;
Quando preciso, também na desgraça,
Chorava comigo e sempre de graça.


Se no futebol a dupla vencia,
Troféus de cerveja e de boa cachaça
De um gole sorviam, e as taças vazias,
Com mútuo apoio nas próprias carcaças.


Mui cedo sentira na pele o fado,
Morrera-lhe o pai, seu irmão em seguida.
A morte o visava, fechando o quadro,
Talvez pra aumentar-lhe a bruta ferida.


Cedo casou-se, foi ser professor.
De paixões sofreu sem ter dado causa.
Se fez de cupido de um meu grande amor
Que, malfadado, hoje me dá náusea.


Quis o infortúnio arribar estandarte,
Levando avante a missão cafajeste
D’erguer-lhe uma tumba sem obra de arte:
O nefrologista não era celeste.


Durante algum tempo ombrou dura cruz.
Pra tamanho lenho era pequenino
Quando aos trinta e três, tal como Jesus,
Partiu quem nasceu pra morrer menino.


Em meu sentimento, perdi um irmão,
Bem mais que de sangue, de coração.
De pouca conversa e nada engraçado,
Foi embora o menino da casa ao lado
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