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domingo, 27 de fevereiro de 2011

052 - Minha filha

Benedito Franco


Minha filha às vezes passa em frente à loja - alta, esbelta, morena - beirando a jambo - sorridente - sorriso de gente feliz consigo mesma - esbanjando saúde: impressão que dá ao vê-la, nos não mais que vinte anos... ajuizada e séria - fiquei sabendo. Linda!

Sô João freqüentava a igreja em frente à minha loja. Tornou presença muito comum e os papos constantes, ainda mais que pertencia, e dos melhores e maiores colaboradores, à Conferência de São Vicente de Paula - Instituição que admiro e procuro ajudar o quanto posso (papai tinha orgulho de ser vicentino e foi tesoureiro por mais de quarenta anos - a Vila de São Vicente, em Coronel Fabriciano, MG, ajudada a ser construída por ele).

Sô João chegou a mim: - Meu filho separou-se da mulher e levou a filhinha recém-nascida para minha casa. Não gostaria de ficar com ela, pois a Maria anda cansada e doente, não contando a idade. Você poderia adotá-la. Suas filhas quase adultas, sua situação financeira boa. Tenho inteira confiança de que minha netinha será bem criada e amada, como suas filhas são formadas e educadas por você.

Foi uma tentação! Chegou a me abalar. Fiquei de pensar e dar uma resposta, certamente afirmativa - criança conquista qualquer um.

Pensando bem, cheguei à conclusão que a menina moraria melhor com os avós - haveria melhor Família para ela?- Mas, como falar e convencer o Sô João?... Ele firme em seu propósito de me doar a menina, pois preocupava-se, e muito, com a doença da esposa.

Solução: protelar o máximo o tempo de pegá-la. Assim os avós poderiam apegar-se à criança. O negócio é ganhar tempo - não cair na tentação - já pensaram: mais uma filhinha, de mão beijada? Nossa! Demais.

- Sô João, irei conhecer a menininha. Ainda não conversei com as minhas filhas - amanhã o farei. Na realidade já havia; expus à Tatiana e à Fernanda a oferta do Sô João; ora entusiasmavam, ora desanimavam:

- Como vamos fazer na hora em que formos para o colégio?

- A gente arruma uma babá...

- E nas férias? Vai ficar com quem?

- E se a mãe vier buscá-la?

- E quando ela crescer...

Estas perguntas e as variantes foram constantes e serviram para aguardarmos mais alguns dias para conhecerem a menina. Além do mais, estavam em provas no colégio.

Alguns dias após, fui conhecer a menina. Nossa! Linda! Deu vontade de trazê-la, na hora, para minha casa. Parecia um pouco com a Tatiana quando pequena - a mesma cor.

O Sô João insistia, indagando se gostei da menina e qual minha opinião. Mostrava-me interessado, mas sempre achando que a menina deveria ficar com os avós.

Quase vinte dias após a primeira proposta, as meninas e eu chegamos à casa do Sô João e da Dona Maria. Difícil as meninas mostrarem-se nem tanto cativadas pela idéia de levar a criança - linda! Uma tentação. Combinamos dar uma resposta alguns dias depois. Eu, bastante interessado, e as meninas quase que curiosas. Sô João eufórico e Dona Maria um pouco menos... ciúmes ou saudades antecipadas?

Por volta de um mês desde o início da proposta, as visitas do Sô João escasseavam. Um belo dia:

- É... a Maria tá muito agarrada à menina.

Dias depois:

- Pelo jeito ... você demorou... a Maria, acho, não vai mais deixar a menina vir para sua casa.

Ele tão afeiçoado quanto Dona Maria.

- Sô João, chegamos ao que eu desejava, os avós são os melhores pais para a netinha...

E quando a vejo... tem um quê de filha minha...



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