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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Extemporâneo


dema


Quem o mandou aguardar tanto,
tanto que a vida passou.
O velho amor perdeu o encanto,
na carência, soçobrou.

Não há mais tempo de partida,
que a hora agora é chegar.
Bem longe jaz a despedida,
não há o que recomeçar.

Nem mesmo as imagens de outrora,
resquícios de pensamento,
encontram lugar na memória,
feneceram ao relento.

Um adeus por insensatez
fez reverter o destino
e a felicidade, talvez,
transformou-se em desatino.

Foram-se dias, meses, anos
e a alma, assim combalida,
refez-se, enfim, dos desenganos,
ressuscitou para a vida.

Agora, mui dona de si,
com frutos desta conquista,
descarta o passado e sorri:
sem chance ao oportunista.


http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/EXTEMPORANEO.html

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Papai Noel


dema

Mais uma vez ele chega,
como tantas outras virá,
enquanto mundo for mundo.
Desta feita, a pé, possivelmente descalço
ou com sandálias rotas.
Há muito sol e calor, chuvas torrenciais,
o dólar caro,
o trenó sem renas.
Vem buscar presentes, não distribuir.
Quer dá-los aos meninos abusados
pelos homens que se dizem de Deus.
Traz um cesto grande a ser abarrotado,
que muitos são os destinatários.
Por certo, contribuiremos.
Vai pegar a lista com o Papa
e nos sites de pedofilia.
Com cada presente uma bênção.
Se sobrar algum, será dos iemenitas.
Que Noel apareça
com espírito de jesus!
Que venha depressa!
Os meninos-presas carecem de paz
e de luz.


http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/papainoel.html

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Ah, o tempo!


dema

Por que ocupar o tempo, se não quero que passe,
e o medo de perde-lo, sendo meu sustento,
ente bizarro que agarro, oh que contratempo(!),
mas no seu transcurso tira-me o disfarce.

Luz que brota do sol não mais lhe retorna,
tal o pingo da chuva caído no chão,
uva esmagada, vinho que me conforma,
se a tristeza bate no meu coração.

Desprendida do galho repentinamente,
voa, a folha, ao vento sem dizer adeus;
néscio, vai-se, o rato, à boca da serpente,
que a coruja mata pra nutrir os seus.

Logo se desfaz a nuvem passageira,
amor adolescente de gosto hormonal,
erro inocente, aurora assaz ligeira
mudança permanente, tem-se o natural.

Tempo é pois segundo, é minuto, é hora,
é hoje, amanhã, por decerto outrora;
tempo é o que tenho, já não tanto assim,
quanto mais o gasto, mais eu gasto a mim.

Perde-se um amor, ganha-se ilusão,
com ela a esperança de nova paixão;
perde-se o presente, ganha-se o passado,
com ele a saudade a viver lado a lado.