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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Noturno


dema

O silêncio da madrugada
torna reais os sonhos macabros,
horripilante meu acordar.

Então, não sei se é tudo verdade
ou se fictas são as cenas que passam.

Respiro ofegante, o coração salta.
Estou vivo me vendo morto.
Pessoas choram, outras chacoteiam.
A conversa é alta, tomam cachaça.
De mim mesmo rio, pois é de graça.

Virando a página, sou eu, menino,
rodopiando a cascavel:
guizo vibrante, língua espichada,
olhos graúdos, corcoveando,
quer me picar.
Giro-a com força, a lançá-la longe.
Eu, com medo, quero acordar.

Agora o tiro me vaza o peito.
Bala perdida, sangue vermelho.
Quanto sangue, claro, desmaio.
Por certo é assim que irei morrer:
se desmaiado, não me levanto,
não choro ou grito, quem vai saber?

A madrugada, devagarinho,
tal qual o sol que se opõe raiar.
Estou suado, apavorado.
Para que dormir?
Melhor acordado.




Em demasilva

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Memory


dema

(Sometimes love rescues you from the past,
turn my guts
and shakes the melancholy of the dark days.)


You do not die
here inside my heart
You remain alive, as you have always been,
only shrouded by the veil of time,
whose flaps, time to time,
sneakily,
I lift one
to see you smiling and jovial.

I refuse to discard intact and beautiful agendas
which, because not used,
became obsolete.



Memória


dema

(Ás vezes o amor resgata-a do passado,
revolve minhas entranhas
e sacode a melancolia dos dias sombrios.)


Você não morre
aqui dentro do meu coração
Permanece viva, como sempre esteve,
apenas envolta pelo véu do tempo,
de cujas abas, de quando em quando,
sorrateiramente,
levanto uma,
para revê-la jovial e sorridente.

Recuso-me a descartar agendas intactas e belas
que, por não utilizadas,
tornaram-se obsoletas.