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quarta-feira, 28 de maio de 2014

Donde a tristeza

dema

Posso afirmar-te, gentil donzela,
quase sempre a tristeza machuca,
sei que a tua te deixa maluca,
mesmo assim continuas mui bela.

Desse olhar perdido no horizonte
jorram mágoas brotadas no tempo.
apesar de tanto contratempo,
desconheces ainda a fonte.

Teu sentir faz-te filha de Hemera
deusa luz, porém, neta de Nix;
brilho e sombras tu trazes à terra,
já de amor és tão só aprendiz.

Se não sabes donde é que ela vem
(e na falta doída de um Bem),
hás de crer vir d’uma companheira,
solidão, que, de toda maneira,
quer ferir fundo o teu coração.
Se, doendo, arrochar o teu peito,
pede a Deus para arrumar um jeito
de encontrares alguma paixão.

Não permitas que tu’alma chore,
vindo a expor tão viva cicatriz
ou repeles quem talvez te adore
e pretenda tornar-te feliz.

Vive a vida tal que graciosa
e jamais tenhas pena de ti;
cromatiza-a com versos cor rosa
junto à minha que a ti prometi.


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terça-feira, 20 de maio de 2014

Politicalha

dema

Estou a viver refém em Macondo,
vilarejo real, um tanto quanto hediondo,
não o imaginário de Gabriel Garcia;
nada bueno cedo nem à  tarde Buendia.
Talvez me falte, de um destes, coragem
pra enfrentar a sacanagem
dos que arrotam, aqui, democracia
e, ab ovo, se arvoram,
em “pai dos pobres, mãe do povo”.
Panda sonolento invejando mamãe Úrsula,
guardiã incorruptível do oco São José,
inverso dos que travam e arrombam,
nesta terra, as portas do palácio
e, em vez de Arcádio, me veem palhaço.
Meu Deus, o que (não) fiz pra merecer?
Eis chegado o tempo das batalhas
da guerra sem limites dos canalhas.
Cobras reunidas numa grande paranoia,
sem temor, sem cuidados, sem pudor,
pra escrever um bel cardápio de tramoias
contra quem os ameaça no poder
ou ali os impede de chegar.
Mentiras e bravatas, horrorosas negociatas,
grana santa, não tão santa, grana tanta,
que a campanha não é barata.
Há fogo amigo, como há fogo inimigo,
tudo, porém, em favor do próprio umbigo.
Quem hão de pôr na cruz, ver expostos ao ridículo,
se uns e outros são do povo benfeitores,
amigos coirmãos dos eleitores?
“─ Construiremos pontes, vales, rios, montes
e os mais belos horizontes;
traremos mais estrelas para o céu;
tereis botina, pão francês e um bom chapéu.
Podem dar-nos seu aval, que somos de confiança,
depositem sempre em nós sua esperança:
os sem teto, os sem terra, sem saúde, sem trabalho,
sem salário, segurança, educação .... “
(e o caralho.)

No comando, com certeza, o trabalho será sério;
Far-nos-ão, seguramente, uma surpresa,
na “Papuda” haverá mais de um Ministério.
─ Mãe de Deus e nossa,
manda-nos chuva longa e grossa,
quatro anos, onze meses e três dias,
um a mais do que aquela de Garcia,
pra lavar a roupa suja que há nesta rouparia.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Morte ao mediano!


dema

Sorrateiras, fogem-me as ideias,
rompem, sem escrúpulos,
com minha veia poética.
Persigo-as. Escapam.
Riem de mim.
─ Velho medíocre! ─ caçoam.
Encontro-me só. Mais solitário me sinto.
Racionais, renegam sentimentos.
Nada de pena. Desconhecem o dó.
Ora, voam. Fuxicam a meu respeito:
─ Que trivial, diz-se poeta e poematiza sem poesia.
Bora, bora, longe de socorrê-lo.
Somos boas demais para parecermos secas,
sem charme, sem beleza.
À caça de um fingidor real!
Dar-lhe-emos alegria e sentir verdadeiro.
Ele, sim, fará de nós sucesso.
Que o medíocre morra na solidão de seu deserto.
Escalde-se e seque no inferno solar do meio dia.
Cubra-o a brisa vespertina com areia quente
e o enterre com suas obras ignotas.
Morte ao mediano!
Vivas ao poeta nato!

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terça-feira, 6 de maio de 2014

Tomara que não?


demo (06/05/14)

E se as feras matarem o domador,
também palhaço e dono do circo,
quem pagará o mico?
O expectador,
que, revoltado, quebrará a arquibancada
pra fazer dela fogueira elevada,
encharcada, bem encharcada
com o que restar de óleo do nosso petróleo...
do ex-nosso petróleo;
então, riscar o isqueiro
e soltar rojão;
dar vivas aos santos
Antônio, Pedro e João.
Depois, cinzeiro, cinzeiro
e só cinzeiro;
não mais cizânia
nem mais vermelho.

domingo, 4 de maio de 2014

Meus poemas

dema

Algum poema que faço
é traço, talvez, fiasco
deste meu viver presente.
Já outros que também teço
derivam, quem sabe, do apreço
por minhas memórias latentes.
Inda há aqueles que amasso
e ao longo do tempo os asso,
a fim de expressarem a  bondade,
beleza, feiura e maldade
dos seres que se dizem “gente”.
Mor parte das peças, porém,
versam de amor e desdém
num coração em pedaços
que, de paixão em trespasso,
anda a buscar outro Bem.

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sábado, 3 de maio de 2014

Sidéreo lado


dema

Redoma negra universal
envolve e aprisiona minha mal nascida alma.
Letal olência desse invólucro dimana,
a intumescê-la de tristeza e solidão.
Gradatim, com dor cruel e lancinante,
ao sabor de eternidade,
em espirais, a torce
e murcha.
Transmuda-a em ébano-aveludada rosa,
destinada a apresentar-se ante Deus
como oferenda de gratidão pela existência amarga.
Esse, o acérrimo fado do meu sidéreo lado.

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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Vaidade feminina?

dema

De menina a vó Dercina.
Espelho maldito, que cabelo esquisito!
Ai, esse gordinho do lado... _ Olhe lá, hein, bico calado!
Descabelada... o nono vestido e ainda pelada.
Vou rezar uma prece pra ver se o decote desce.
Meu Deus, não! Raimunda! Essa calcinha tá marcando a bunda!
Ela vai com um colar assim? Não acredito. Se for, juro que grito.
Merda! Quebrei minha unha, como sou lerda!
Ih! Esmalte desse tom? Que brega, nem batom!
─ Ô Bem, espere!  Passo ou não o gloss?
Ande, quero ouvir sua voz!
Que sapato apertado! Meu dedinho, coitado!
Mas é este que quero, eu tolero.
─ Já vou, mas não feia desse jeito.
Quero arrasar. Todas hão de invejar.
Pronto, só os cílios. São o meu idílio.
─ Viu que sobrancelha bacana? Fico sacana.
...
─  Fora com essa parafernália!
─ Sim, Vó, e já liguei pra funerária.