Páginas

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Tromba d’água

(dema)

Caiu chuva pesada,
chuva não, tromba d’água.
Levou carro, levou rua,
levou ponte, levou casa,
deixou mágoa,
tanta gente sem nada.
De então chegou o frio,
lá de baixo,
com geada, calafrio.
Já em cima, o tornado,
arrasadas as cidades,
riqueza desperdiçada.
Os cachorros nem querem dormir fora
e a poesia, no entretempo, foi-se embora.
Vê-me tornado, tromba d’água, vendaval?
Sou do bem, não do mal.
Medo de mim? Nunca for’assim.
Poesia é meu elã,
Inda que não de meu clã.
Sou muito mais que seu fã.
Hoje, é minha vida,
possivelmente meu amanhã.
Que passe então o tsunami.
Que ela também me ame!

Vira-desvira

(dema)

A brisa-mar sopra diuturnamente as terras de costa,
carcova pra sempre o dorso esguio das palmeiras.
Infla-me as narinas o olor de maresia e
salga-me as faces a umidade vespertina.
Logo, logo, multiplicam-se no céu os pontos cintilantes
com a lua cutucando o sentimento dos amantes.
Em rápido chegar, a noite engole a luz de entorno,
mal dando ao dia tempo de dizer adeus.
No mesmo pique, antes das cinco, o reverso ocorre,
a luz penetra as trevas pra parir um novo dia.
Com natural beleza, contagia-me
a rudeza desse vira-desvira das avessas,
salivando-me um refinado sabor de poesia.
Eu, cá, ponho-me a refletir e me questiono
se toda orla é como a da Bahia.