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quarta-feira, 31 de março de 2010

Sem a letra "a"

Observação: Este texto não contém a letra "A"


É possível sim.

Autor desconhecido.



Sem nenhum tropeço posso escrever o que quiser sem ele, pois rico é o português e fértil em recursos diversos, tudo isso permitindo mesmo o que de início, e somente de início, se pode ter como impossível. Pode-se dizer tudo, com sentido completo, mesmo sendo como se isto fosse mero ovo de Colombo.

Desde que se tente sem se pôr inibido pode muito bem o leitor empreender este belo exercício, dentro do nosso fecundo e peregrino dizer português, puríssimo instrumento dos nossos melhores escritores e mestres do verso, instrumento que nos legou monumentos dignos de eterno e honroso reconhecimento

Trechos difíceis se resolvem com sinônimos. Observe-se bem: é certo que, em se querendo esgrime-se sem limites com este divertimento instrutivo. Brinque-se mesmo com tudo. É um belíssimo esporte do intelecto, pois escrevemos o que quisermos sem o "E" ou sem o "I" ou sem o "O" e, conforme meu exclusivo desejo, escolherei outro, discorrendo livremente, por exemplo, sem o "P", "R" ou "F", o que quiser escolher, podemos, em corrente estilo, repetir um som sempre ou mesmo escrever sem verbos.

Com o concurso de termos escolhidos, isso pode ir longe, escrevendo-se todo um discurso, um conto ou um livro inteiro sobre o que o leitor melhor preferir. Porém mesmo sem o uso pernóstico dos termos difíceis, muito e muito se prossegue do mesmo modo, discorrendo sobre o objeto escolhido, sem impedimentos. Deploro sempre ver moços deste século inconscientemente esquecerem e oprimirem nosso português, hoje culto e belo, querendo substituí-lo pelo inglês. Por quê?

Cultivemos nosso polifônico e fecundo verbo, doce e melodioso, porém incisivo e forte, messe de luminosos estilos, voz de muitos povos, escrínio de belos versos e de imenso porte, ninho de cisnes e de condores.

Honremos o que é nosso, ó moços estudiosos, escritores e professores. Honremos o digníssimo modo de dizer que nos legou um povo humilde, porém viril e cheio de sentimentos estéticos, pugilo de heróis e de nobres descobridores de mundos novos.

Quem escreveu? Mistério...


sexta-feira, 26 de março de 2010

FAZENDA DA PINDAÍBA

Ana de Brito Pereira *

Terra querida e abençoada,
Onde minhas raízes eu plantei,
Onde fui muito feliz,
Colhendo a paz que sonhei...


Daquelas águas queridas,
Que rolavam por terra!
Águas alvas e mansas,
No córrego da Pindaíba.


Quando o sol despontava,
Os canarinhos a cantar,
Chamando suas companheiras,
Para juntos o rei saudar.


Também o pássaro preto,
Entoava sua linda melodia,
No poleiro cantava o galo,
Anunciando o novo dia.


Perto da minha janela,
Os pássaros cantavam, eu sorria
No galho da mexeriqueira,
Espalhando doce alegria.


O majestoso poeta sabiá,
No alto da laranjeira,
Entoava lindas canções,
Junto às suas companheiras.


Do paiol nunca esqueço,
Cheio de milho sempre foi,
Em uma varanda descansava,
O velho carro de boi.


De manhã bem cedinho,
Meu querido pai cangava os bois,
Alegre saía para o serviço,
Para voltar depois.


Gemendo a boiada saía,
O carro a cantar,
A linda cantiga eu ouvia,
Esperando meu pai chegar.


O som do seu berrante,
De longe a gente ouvia,
Nosso pai com a boiada,
Na estrada descia.


Também do ipê amarelo,
Aonde a gente se entretinha,
Brincando horas e horas,
Ali passávamos o dia.


Daquela varanda modesta,
Jamais consigo esquecer,
Minha querida mãe tecia,
Colchas para nos aquecer.


Ao pé da grande gameleira,
Testemunha de nossa felicidade,
De balanço brincávamos,
Oh... quanto sinto saudades.


A grande laranjeira,
Que tantos frutos deu,
Deixo com carinho,
Lembranças de um passado meu.


Na jabuticabeira do curral,
Cantava alegre o bem-te-vi,
Na sombra do bambuzal,
Arrulhava o juriti.


No curral mugia a vaca,
De lá relinchava o cavalo,
No chiqueiro roncava o porco,
À noite subia o doce orvalho.


Adeus velha morada,
Adeus córrego querido,
Adeus lindas mangueiras,
Adeus jenipapo amigo.


Adeus Pindaíba querida,
Que nunca mais esqueci,
Como perdi meus queridos pais,
Que muito, muito sofri.

* Ana de Brito Pereira é vovó de Rita,
o "amor do Daniel", meu filho, como
diria minha nenê mais nova, Kateriny


segunda-feira, 1 de março de 2010

Saudade

                                                       Dema


Nunca imaginei que algum dia
Sentiria saudades de ti.
Presente ausência, amargo sabor,
Denunciando existência d’amor.


Fel regurgitado de azia
Queimando-me o corpo e trazendo
Momentos de grande agonia,
Ou deixando-me a mente vazia.


Dor cruel que corrói minha essência,
Tal ou mais que a do parto sentida,
Rompe o cerne de minha existência,
Larga aberta na alma u’a ferida.


Bem ao certo, não sei que é saudade,
Se é prazer ou se é crueldade:
Se lembrança doce de quem fica,
Se ausência viva de quem parte .


Se a dor que oprime quem não fora
Pela ausência daquele que partira
Com lembranças enchendo noite em claro,
Questionando se a relação falira.


Se as boas lembranças tem quem fora
Quais de quando junto a quem ficara,
Se amargura que desde então fruída
Em temer por aquele que deixara.


A mim parece prazer doce lembrança,
Se traz consigo um quê de felicidade,
No entanto, quando na distância,
Se há dor, assim há de ser saudade.

                          ...........