sábado, 15 de julho de 2017

Com ou sem amor


dema

Pensava me encontrar, enfim, liberto
dessa paixão que sinto a descoberto,
como se o tempo jamais existira
e não fosse a vida mais que mentira.

O que esperar do amor não compartido,
desse vazio enorme sem sentido,
desse eterno querer estar contigo,
de padecer um perene castigo.

Ai, Deus que sempre ampara o sofredor,
se a causa do penar provém do amor,
ou se o culpado então for o  destino,
livra-me desta dor, meu desatino.

Por quanto tempo ainda este martírio,
será que até meu último suspiro,
amar distante seja meu calvário
pra ter-te apenas no imaginário?

Ao fim e ao cabo, eu não sei dizer
se viver é melhor se existe amor,
mesmo quando esse amor traga sofrer
ou se, por não o ter, morrer de dor.

sábado, 1 de julho de 2017

Rua de “nós-meninos”


dema

Rua do quartel, burburinho, bandeirolas, gente, bumbo e corneta. Olha a fanfarra!
Tá tará tá tá tá tá... Tá tará tá tá tá tá... tá tará... tá tará... tá tá tá tará...

Depois, na principal, o palhaço, em pernas de pau,
e a molecada, seus camaradas:
— Hoje tem marmelada? — Tem “sinsinhô”.
— Hoje tem goiabada? — Tem “sinsinhô”.
— Hoje tem espetáculo? — Tem “sinsinhô”...
Sou gato, escuto e pulo. Da janela na calçada, grudo na turma. Lá vou.
Rua das acácias, das palmeiras, da ladeira, das rameiras,
da casa da vovó, ai que dó (embora longe da minha),
de frente da de Manoela,  então, princesa, hoje rainha.
Cada qual com seu segredo, cabeludo de dar medo.

Laranjinha no bar da esquina da rua da escola,
ando logo que a pipa empina e a seguir tem bola.
Pirralha namoradeira bem no largo da matriz,
doido, “seu guarda” e chafariz.
Menino de rua? Que nada, rua de “nós-meninos”. Que mimo!

Agora, droga, tiro, polícia, bandido. Horror.
Se cheia de gente, apavora
de edil a senador, de alcaide a governador
e até Presidente pôs fora..

Maldita tela de computador e TV,
de rua não quero mais saber.
Coitada da rosa, o jeito é olhar pra lua,
o muro, ora, tão alto, não a deixa espiar a rua.




O poema, a poesia


dema


Radiante, manifesta-se minh’alma,
vestida da luz das manhãs de verão;
cores vivas, encanto e afável olência
que os versos fagueiros, de amor em essência,
grafados da pena que trazes na palma,
fazem desabrochar em meu coração.

É fato que, às vezes, percebe-se o blue
no tom das imagens, mais cinza que azul;
doutra feita, porém, o lilás de festa
evoca memórias da boa seresta.
E, se acentuado o matiz violeta,
ao certo é paixão à “romeu-julieta”.

Esplendor de lumes, nuances, olores,
música suave, prazer com sabores,
tragédia, tristeza, penumbra, sangria,
os traços marcantes de qualquer poema,
quando lapidado com gran maestria,
não são nada mais do que elos de algema
do engenho poético com a poesia.