segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Caótica ótica

dema

Ordem no caos é desordem,
o inverso, então, contra-essência
_ Zerê não se vê com desdém
nem louco com a própria demência.
Em verdade, é o que ora se dá
nos rincões desse lado de cá.
Financia-se, aqui, anarquia
pra tomar-se qualquer decisão,
governante só tem  maioria
se, afastado da ideologia,
segue a regra da corrupção.
Governa-se com falcatruas,
aparelham-se as instituições,
compra-se o aplauso das ruas,
das gangues de badalações.
Quem, porém, trabalha, produz,
sobe o calvário com a cruz
e vive a sofrer desacato,
de fato, é quem paga o pato.
Ordem no caos é desordem,
o inverso, então, contra-essência
_ Zerê não se vê com desdém
nem louco com a própria demência.




quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Vi-me

dema

Vi-me, hoje, o mal inserido no mundo,
nos complexos  rebentos dele oriundos;
vi-me inveja maldita a comer pelas beiras
meio a leigos comuns e entre padres e freiras;
vi-me ódio a pregar outro “Jesus” na cruz,
coração sucumbido, carente da luz;
vi-me hediondo afogando crianças,
fulminar de inocência e futuro-esperança;
vi-me adaga afiada decepando cabeças,
qual neoguilhotina, evoluída às avessas;
vi-me tirano de manto purpúreo
a manter, com migalhas, seu poder espúrio;
vi-me covarde, matando animais,
sem dar-lhes defesa, com meios brutais;
vi-me ganância de poderosos vis
no explorar o lavor de homens-servis;
vi-me corrupto em culotes repletos
com tributos pagos por civis corretos;
vi-me exegese, à visão do diabo,
inferindo cruzadas do livro sagrado;
vi-me feitor a tratar com pancadas
a mãe de seus filhos, mulher mal amada;
vi-me esposa sem brio, fingida, safada,
traindo o marido em ocultas quebradas;
vi-me pilantra em  jaleco e batina,
sem dó, abusar de indefesa menina;
vi-me dono do tráfico dado ao extermínio
das mulas do morro, mor vezes, arrimos;
vi-me anjo do inferno com sorriso largo
mofando de Cristo a cumprir seu encargo;
vi-me o Rei do Universo desnudo de graça,
ante humana barbárie que a tudo desgraça.





terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Moça triste

dema


Prende-se, meu olhar, em tua face,
a implorar por um natural sorriso,
aquele, pelo qual perco o juízo
e então meu coração logo desfaz-se.

Se acaso descobrisse em tua alma
indício de qualquer laço comigo,
faria do meu peito bom abrigo,
recanto em que todo rancor se acalma.

Cerram-se, de repente, tuas pálpebras,
janelas que te escondem deste mundo,
tornando meu pensar mui mais profundo
em busca da razão de tuas tênebras.

Quisera ser-te espelho de temores,
o muro onde fazeres mil lamentos,
semideus pra minguar teu sofrimento,
solvente a dissolver os dissabores.

E, num passe de mágica, depois,
quais pássaros tocados pela brisa,
cumprindo o que previra a profetisa,
no espaço, vagaríamos nós dois.

Que dizes, melancólica princesa?
Não me ouves nem olhas, mal me sentes; 
daí, como saber o que pretendes
ou reténs para mim grande surpresa?




domingo, 20 de dezembro de 2015

Inimiga

dema

Que queres comigo?
Meu coração, tu destinaste ao inquilinato;
ódio, amargura e solidão disputam esse vazio.
roubaste meu tesouro único, o amor.
Me fizeste terra estéril a ervas boas,
sobrevive apenas joio.
Pior, levaste embora o amor próprio
e minha reserva de confiança.
Definho cotidianamente,
enquanto aguardo o restolho do que o fado me assegura.
Portaste, contigo, meu desejo de viver,
minha visão platônica de mundo,
sobrou-me tão só enxergar a vida inócua.
Não verás mais sentimento bom em mim.
Terá cruzado o limiar do amor e ódio, para deste se embebedar.
Nada ficou. Tudo enxotado enquanto me traías.
E como detesto os lapsos de lembrança de carinho e de ternura,
suplico respeito à minha debilidade,
ao meu direito de renegar-te,
de querer-te o mal,
o insucesso,
a morte lenta em desespero.
Hás de pagar dobrado pelo crime cometido.
Que meu sofrimento se triplique em ti,
minha aridez gere rebentos em tua alma;
que a seque,  a definhe.
E não digas jamais que não sou tua,
pois, confesso e juro:
tua inimiga.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Silêncio branco

dema

Apenas traços,
caracteres sem laços,
riscos, rabiscos,
entre eles, um silêncio branco.

Rodo mundos, rodo temas.
Balanço, espremo, espanco,
nem de longe, um poema.
Penso, então, cantar a dor,
mas dor se chora, não se canta,
o que se canta é o amor;
das canções, é a que encanta.

Ah, o amor, tema batido,
salvo quando excepcional,
por que não deixá-lo olvido (?)
ou será peça banal.

Até onde a insistência?
Tudo faz-se trivial,
não demora, a desistência
chega com ponto final.

Quem sabe, num noutro dia,
com leveza e intenso encanto,
de minh’alma, ora tão fria,
brotem, para teu espanto,
versos plenos de poesia,
que, levando tua rotina,
tragam risos junto ao pranto,
como quando eras menina.

Hoje, porém,
apenas traços,
caracteres sem laços,
riscos, rabiscos,
entre eles, um silêncio branco.



http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/SILENCIO_BRANCO.html

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Humana esper... ânsia

dema


Cotidianas expectativas múltiplas
tecem a essência da esperança
que, não raro,
es...fa...ce...la-se.
Hoje, o verde brota com sorriso;
na manhã do dia imediato,
o desapontamento amarronzado;
já à tarde, fato novo tinge o horizonte violáceo.
Depois,
cores seguem se alternando.
Ejetada do inferno rubro,
ruma, a criatura, ao azulado etéreo.
Urge acautelar-se ante sucção pelo buraco negro,
em cuja boca, há desespero.
Na trilha do infinito arrolam-se incontáveis paisagens.
Tomara, nelas, predomine o verde.




sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Cenário posto

dema

Trinar de pardais em pura alegria
(não lhes veda o voo essa água-névoa,
descendo fresca, porém, não tão fria),
chuva mansa nina velhas lembranças,
doces, amargas e pequenas mágoas;
mal ergue pálpebra, o cão indolente,
se zune a mosca assim intermitente.

Após certo tempo, a sorrir desato
o cenário posto a meu desacato.
A lerdice induz-me a deitar na cama,
contudo, resisto, em minh’alma, há trama.

O espírito d’ora, em tom natalino,
ampara a imagem de Jesus-menino;
na noite breve, sob luz de lustres,
ou de velas curtas, em casa pobre,
injeta n’almas sentimento nobre,
a fazer de humanos anjos ilustres.

Mas, dentro de mim, um ódio cruel
cospe navalhas em duras batalhas
aos males de agora, em terra e no céu:
contra indiferença, incansáveis justas,
em regra,  travadas às próprias custas,
contra inveja sacana, árdua peleja,
contra raça humana, pois, autofágica,                             
o meu todo é a arma que relampeja,
se bem já vislumbre derrota trágica.

Célere, cobre-me a fina garoa,
desfaz-se o cismar (ocorrido à toa?),
se em vez de adulto, me sentir criança,
imploro consolo, além da esperança.

http://www.demasilva.com.br/PINEDITOS/CENARIO_POSTO.html

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Mesmice

dema

Cisco pra lá, cisco pra cá...
cisco pra cá e pra lá e bico...
cisco e bico...
e cisco e cisco e bico.

Minhoquinha extra!
Vixe mainha, tem briga...
e brigo e cisco e bico.

Formiga mancueba,
que vem doutra gleba?
Cisco e bico.

Cisco pra lá e pra cá...
ah não! é ração que me dão.

Cisco pra lá e pra cá...
e crac... crac...
de novo? É casca de ovo.

Cisco pra lá e pra cá... e bico,
ô bicho, e não passa disso.

Queria mesmo é ser ave de pasto,
estar cada dia em lugar diferente;
bem longe daqui, afundar o meu rasto,
tocar doutro jeito essa vida pra frente,
piolho e poleiro acabam com a gente.

Diz-se que há risco,
mas nisso eu invisto.
Quem sabe eu fugisse
da eterna mesmice?

Co – co – ri – có…
co – co – ri – có…

Não, não, não, meu senhor,
solte-me, faça o favor!
Não, não, não, senhor moço,
por favor, não me torça o pescoço!


quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Anverso e reverso

dema

Quanto mais proibido,
maior o desejo,
é que infla a libido,
e aproveito o ensejo.
Em sendo pecado,
quero ver o outro lado.
Eita coisa besta
a humana natureza!
Parece às avessas.
Sinal de pobreza?
Com e sem vontade,
em quase liberdade,
rezo quando preciso,
porém, narciso,
peco porque quero.
Dobrado em oratório,
não me desespero.
Se a uns eu maltrato,
não deixando barato,
a outros eu amo de fato.
Sou contraditório,
Eis o meu retrato.
Minto pra mim mesmo,
com Deus sou sincero.
Caso eu viva a esmo,
não passo de um zero.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Pelo mundo



dema

  

Em rinhas de petrodólares,
sacropatos selvagens se matam.
No meio dos oceanos,
de plástico em plástico,
albatrozes estufam o papo
e pagam o pato.
Ave mors!