sábado, 23 de agosto de 2014

INDA VEJO

dema

Inda vejo,
no milênio terceiro,
pertinho do terreiro
onde desceu Gabriel,
a barbárie brotando da terra,
caindo também do céu,
a estilhaçar as crianças,
cortar inocentes cabeças,
como milhões de esperanças.
Tudo em nome de raça,
de um povo, de um deus.
— Que desgraça!
Mas quem é esse deus
que presta somente aos seus?

Mísseis, na Ucrânia, derrubam
os pássaros que por ali voam,
e almas no espaço revoam,
perdidos seus corpos sem grita.
— Ô morte esquisita!
Já russa se fez a Crimeia;
abaixo, cinza, Israel,
Gaza, não é de ninguém;
Telavive, Jerusalém...

Nas áreas do rico óleo negro,
não distante do ébano mar,
a notícia se cala
à degola de alarde
com adaga empunhada por rosto cobarde,
a mostrar tão somente o ódio no olhar,
na espera de alçar, por prêmio, o paraíso
(— ledo enganoso juízo.)
Sorrindo o espreita o chifrudo diabo,
tridente em riste pra assá-lo na brasa
do inferno que, agora, sei, muito mais arde,
sem pressa nenhuma, que seja outra tarde.
— Poltrão! Animal! Covarde!
Teu ato denigre até a natureza,
incrementa apenas o ódio cruel,
borbulhas de sangue nessa areia quente,
do nascer dos astros ao seu poente.
Desmereces o trato de humano;
teu pecado, maior que o de Adão.
Nenhum deus te terá piedade,
teu destino é a condenação.

— Que mundo besta, Senhor!
Pra onde fugira o amor?


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