terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Vate confuso

dema

Hermética sua poesia,
à moda da própria sorte,
cheirando ruim maresia
seu bafo de grito de morte.

Por que odiar tanto os homens,
senão execrar-se a si mesmo?
Esse ódio decerto o consome
ao varar as penumbras a esmo.

Parece enrolado na massa
de fracos, de fortes, de bestas,
rugindo enjaulado sem graça,
felino em gaiola sem fresta.

Arrota palavras de ofensa,
não raro sem sentido algum,
senso claro de obscura crença,
vomitar de quem ‘stá em jejum.

Vez a vez, salta um verso singelo,
de beleza profunda, entretanto,
perdido, enrolado em novelo
de impropérios balidos em pranto.

Quisera entender a mensagem
que o vate pretende parir,
mas em meio a tanta plumagem,
não consigo sequer inferir.

Profere  malditos verbetes,
fustigos contra a sociedade;
não limpa os pés no tapete,
merece é nossa piedade.

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Conjecturas

dema

Que haverá por detrás desse azul de céu e mar?
Diz-me coisas o marulhar das ondas que vêm aqui bater.
Espumam,elas, a cerveja que o germano ingere
e a braveza dos homens-bombas que escondem suas mulheres.
O verde-orla soma-se ao céu e mar no horizonte,
concretando a espera humana de fundir-se ao infinito.

Em socorro aos gritos das crianças nuas, famintas,
pululando no continente que mutila,
anjos vigilantes transitam pelas nuvens.
Conduzem-nas ao céu e as depositam num cantinho fofo.
Dão-lhes de comer e as põem a dormir.

Quando em vez, um iate de risos e mulheres despidas corta as águas,
tocando o céu sobre as ondas, qual nave de celestiais orgias.

Hoje não há camelô, não há boia-fria.
Algumas aves circulam contra e a favor da brisa que dobra as palmeiras.

No meu cismar, imagino as bilhões de mensagens ascendendo
aos satélites e descendo além-mar,
tais as que de lá nos chegam sem cansaço algum.
Penso as incontáveis relações que interagem os viventes,
se Deus tudo vê.
E de lá dessa terra, desse mar, desse céu, quem está?
Alguém nos aguarda ou quer nos alcançar?
Para além do sol que nos dá o colorido, quem a nos ver?

A galera uiva e aplaude o gol que estufa as redes.
Lá fora o flanelinha finge que vigia o carro em troca do jantar.

Os homens de colarinho álveo tramam a falcatrua pra dobrar o povo, 
defendem interesses, penduram-se no poder.

As prostitutas perdem a vez para as meninas de família.
De sobreviver nem o corpo lhes é mais garantia.
O jeito é aventurar-se aos biscates cotidianos.

Jovens-adolescentes se abatem pelas bocas de fumo de seus donos, 
enquanto os adictos fazem de seus lares esperanças vazias.

Porquanto Netuno se agita, Zeus dorme.

Dezenas de ministérios consomem o tesouro abarrotado de tributos,
cujas migalhas chovidas na periferia garantem os votos futuros.

Lá vou eu de novo me perdendo em conjecturas,
embrenhando-me nesse terra-mar-e-céu à caça de sentido.
Quando me dou conta, já estou no infinito.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Legítima defesa

dema


Moleque inocente, caninana brava.
A cobra dourado-prateada não tem veneno.
Ninguém lho ensinara na lavra.
Como ficar sereno?

Um só golpe e decepada a cabeça.
Ratos e sapos aplaudindo à beça:
─ Gloria in excelcis Deo
et  in terra gratias ignorante puero!

Legítima defesa putativa ao fato põe fim,
com dura lex então abrandada.
E chega de latim:
alegria pueril e da bicharada.

Alfinetado o gajo a tomar a flor do cacto.
Veredito natural prolatado ao vegetal:
 Legítima defesa.
Reconvindo a ré contra o autor original,
a lei do talião fora assim aplicada:
 Em favor da natureza
(meu Deus, que esperteza!),
condenado o ladro a dupla alfinetada.
Por se tratar de flor, seja a pena agravada:
 que a dor o maltrate até madrugada!

Fatos/atos correlatos,
estranhos relatos,
nenhum boato.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Hoje eu queria...

dema

Hoje, eu queria que estivesse em mim
o sentimento de Jesus-menino:
o coração de pedra amolecido,
a mente aberta igual ao pequenino;
a alma  abrandada...  e ficar assim,
desarmada, leve e bem guarnecida
de imensa bondade, de puros desejos
e minhas vontades alfim benfazejas.

Queria o ego a pensar coletivo,
e que, ao agir, só praticasse o bem;
o peito amigo um  tanto acolhedor,
repartindo amor sem escolher a quem.

Ser aquele que se dá em presente;
beijar cada face, tocar muita gente.
Queria também dividir sorriso
e a palavra amiga, sempre que preciso;
dispender um tempo a quem  dele carece,
sem antes pesar se acaso ele o merece.

Surdo que sou, ser eu todo ouvidos,
apagar as mágoas se inda não olvidas,
suportar com calma certos papos fúteis
como se agradáveis ou mesmo se úteis.

Queria estar seguindo a estrela-guia,
pra trazer a luz à trilha de Reis Magos;
depois, de joelhos, alta fidalguia,
da Virgem Maria ganhar um afago
e no berço-estábulo, mas tão divino,
beijar o rostinho de Jesus-menino.


A todos, um FELIZ NATAL!

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sábado, 21 de dezembro de 2013

Herança em retrato

dema

O colegiado safado
mandou exumar
JB Marques Goulart
com fincas de ser “descassado”.
Terá sido envenenado?
Coitado, tirar da tumba o exilado!
Vivas à democracia!
Todo mundo ria.
Canonizada em vida
“Ex-militanta” querida
sob fardados aplausos
da recém-extinta tirania.

Coisa de Fisco municipal:
operar em iate fenomenal.
Da conta tributária desconta
e desvia pra própria conta
a majoritária fatia.
(É claro que d’outro lado
a construtora sorria.
Pra eleger seu deputado
caixa dois também servia.)

Um mistério nos intriga,
deixa-nos por entender:
há mais gente na polícia
e mais canalha a nos render.
Um bandido em cada esquina.
Em casa, o pai de família,
talvez por azar ou sina,
ao defender sua filha,
pega a arma e a engatilha.
Se o soldado cai-lhe em cima,
quem vai preso? _ Imagina!

Saudades de olhar a rua
como a rosa sempre o fazia,
frente sem grades, de muros nua,
nenhuma câmera de vigia.
Saudades da liberdade
de dar volta ao quarteirão,
fosse escuro ou claridade
sem medo ou inquietação.

Tomara não seja preciso
sacar, à noite, dinheiro vivo.
Caixa eletrônico e explosivo
andam mandando pro paraíso.
Cadê o guarda, cadê o vigia?
Na hora “h” ninguém o veria.

Por favor, nunca passe mal,
não se sabe o que é pior:
morrer em casa ou no hospital,
isto é, na cama ou no corredor;
quem sabe se em casa melhor,
enrolado em seu cobertor.

E nas celas da Papuda,
mensaleiros a fartar,
qualquer hora é de visita
(ou será que Deus ajuda?),
embora espécie esquisita,
mudam as regras do lugar.
Quem não trabalhou na vida
quis até se aposentar.
Mas, pra justiça devida,
falta alguém ali chegar.

Enquanto os morros se deitam
sobre os casebres mais pobres,
plantados como se ajeitam
em áreas longe dos nobres,
assentados vendem as glebas
que ganharam com nossos cobres,
pra invadir outras leivas
pois o INCRA não descobre.
Há que perguntar a estes,
o que é propriedade?
Será o uti possidetis?
Não se sabe de verdade?

Eis a minha pátria amada
que apresento a ser herdada.

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Quando eu morrer

dema

(Disposição aos que me prezam.)

Quando eu morrer, basta-me um velório simples.
Que chorem um pouco por minha partida,
depois, sorriam: que alívio!
Não me velem por muitas horas.
Como eu, ninguém gosta de mau cheiro.
Estando meu corpo estirado entre candelabros
(cuidem para que ainda não o queimem!),
busquem-me um buquê de rosas vermelhas,
viçosas e perfumadas.
Mostrem-mo e o entreguem à minha amada.
Ela que as guarde tão só enquanto vivas,
após o quê, há de deitá-las fora.
Essa será minha homenagem póstuma
a quem, nesta vida, terá me amado de verdade.
Nada de desidratar alguma pétala e dela fazer relíquia.
O que importa é a homenagem gravada na memória.
Findo um prazo adequado,
conduzam meu corpo ao crematório.
Assim, estarão dispensados, por minha causa,
da intolerável visita de finados
ou mesmo insusceptíveis de algum remorso,
quando impossível ou esquecida,
se o esquife descer à cova.
Fora com as cinzas!
De preferência, espalhem-nas sobre as águas de um rio
ou reservatório de alguma hidrelétrica.
Por favor, não as utilizem como ingrediente
de algum five o’clock tea.
Se algum bem material lhes restar como herança,
sejam comedidos na divisão.
Os quinhões hão de lhes acrescer,
jamais de os dividir.
Tenham a fineza de conservar por alguns anos
(a critério dos que as detiverem)
as obras literárias que produzi.
Prescindível sua leitura, ainda que esporádica,
sendo suficiente que, vendo-as, lembrem-se
de que já existi.
Não se desesperem com esse fato fúnebre.
A vez de cada um chegará.
Pressa para tanto não se faz necessário.
Quando se vive o ciclo natural,
a morte chega devagar.
Morre-se paulatinamente:
o metabolismo lerda,
a melanina exaure-se,
a ossatura fragiliza-se e murcha,
os cabelos somem,
as vistas se enfraquecem,
fígado e rins vão se cansando,
o coração passa a bater ofegante,
os pulmões definham,
as juntas se enrijecem,
dissipa-se a libido,
os genitais rendem-se à lei da gravidade,
retraem-se as gengivas,
dentes amolecem e caem,
as cadeiras “crocanteiam”,
colam-se vértebras da lombar ou cervical,
a pele enruga-se,
o viço “desviça”,
evapora-se a beleza,
a esperança se desespera,
a depressão derruba...
Gradatim, tudo fenece.
De então, para que a vida se esvaia por completo,
não é preciso mais do que uma enfermidadezinha oportuna,
gripe, tuberculose, pneumonia
ou, quem sabe, uma queda brusca ao tropeço de um degrau.
Se Deus existe, certamente me acolherá em espírito.
Se não, continuem acreditando que Ele os está a amparar.
Segurem-se na Sua mão.
A todo modo, saibam que lhes desejo a paz
e que também me deixem em paz.
Após tudo isso,
fui...




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

ALMBL - POSSE

ACADEMIA LEONÍSTICA MINEIRA E BRASILIENSE DE LETRAS - ALMBL
POSSE DE NOVOS MEMBROS


(dema)
Em 09 do corrente mês (dez/13), a partir das 19:00 hs, aconteceu, na Câmara Municipal de Uberlândia, a solenidade de posse dos novos membros da Academia Leonística Mineira e Brasiliense de Letras - ALMBL, que ocuparam 07 das cadeiras vagas nessa agremiação cultural.



Na ocasião, tomou posse também o novo presidente, Ac. Sebastião Cezar Rodriguez, para a gestão 2014/2015, substituindo o Ac. Prof. Valdemar Firmino de Oliveira.




Os ingressantes foram diplomados e empossados pelo novo presidente que, na ocasião, indicou, dentre eles, o próximo secretário, Ac. Ademar Inácio da Silva.


Os novos membros são Ademar Inácio da Silva, Antônio Bosco de Lima, Antônio Marciano, Ivone Gomes de Assis, Lourdinha Barbosa, Robisson de Albuquerque e Terezinha Caixeta, a maioria com diversas obras literárias publicadas.


Ivone Gomes de Assis proferiu discurso de posse, em nome dos demais.





Velha inquilina

dema

Descobri, muito faz:
uma tal tristeza imensa mora em mim,
nela também.
Em mim, nasceu comigo,
antes mesmo de se cortar
o cordão do meu umbigo.
Minha vida foi assim:
eu carregando a tristeza
e a tristeza carregada em mim.
Pensei que a tivesse toda,
pensamento ledo
ante conclusão a que chego:
só metade é minha,
outro tanto há de ser dela.
Quando sorri,
a tristeza sorri com ela.
Fico em dúvida crucial:
precede-lhe ao corte da liga umbilical
ou lhe adveio de unir seu umbigo comigo?
Ao que entrevejo,
a tristeza comeu nossas almas
e em seu lugar se instalou.
Ah, velha inquilina!
Extirpou toda nossa alegria;
de cada um, seus desejos;
de ambos, a esperança.
Fez-nos zumbis em espírito.
Por maldade, sem grito,
trucidou, ab ovo, a felicidade
e moldou-nos escravos-perseverança.
Então, se me vejo,
é como se a ela eu visse
_ espelho do meu não-querer,
do meu não-desejo.
Alma-tristeza, com o tempo,
de nós se apossou:
e é uma só.
Destruí-la traz duplo suicídio.
O pecado, de Adão,
mas, nosso, o castigo.
Meu sorriso amarelo,
o dela idem.
Um nó sem desate
a dar dó.
Alguém tem?